Todos os pregos do meu caixão

13/01/2014

Em julho de 2014 eu completo 14 anos de um relacionamento conturbado. Não posso chamar de caso, porque há pouca paixão envolvida. Não posso chamar de amizade, porque minhas referências de amizade são muito mais saudáveis. Acho que dá para falar em parceria, porque ninguém fica junto tanto tempo se não por isso.

Em julho vai fazer 14 anos que eu dei o meu primeiro trago em um cigarro.

Eu sempre digo para as pessoas não fumarem. Cigarro faz mal, diminui a sua capacidade respiratória, te expõe ao risco de sofrer inúmeras doenças, te faz ficar fedendo a cigarro e, nos tempos de hoje cada dia mais, te torna um tipo de pária social. Se você nunca fumou, não entra nessa. É roubada, e sair é uma merda.

Eu não quero sair. Não hoje. Eu me sinto sempre acompanhado quando estou com um cigarro. Fumar me acalma, me faz clarear as ideias e me distrai. Quando chamo o cigarro de parceiro, é porque me sinto exatamente assim que me sinto: juntos conseguimos ser razoavelmente produtivos, mas no fundo um está fodendo o outro de alguma forma. E eu sou um fumante educadinho. Não fumo dentro de lugares fechados, evito fumar perto de crianças ou quando tem alguém por perto comendo. Tenho sempre meus cigarros, para não ter que pedir a ninguém.

No último período da faculdade pude ler um texto muito bacana que me ajudou a diminuir a culpa que eu sentia por fumar. Definitivamente eu não sou o tipo de sujeito que leva uma vida saudável, e o cigarro é só parte disso. Eu fiz uma escolha, e ela pode não ser racional para você, mas afeta diretamente a mim. Entendo quem fica triste com a minha escolha, mas eu ficaria bem mais feliz se você entendesse, afinal, eu não fico reclamando da quantidade absurda de sódio, sal, açúcar, gordura ou agrotóxicos que você ingere todo dia.

Eu vejo a vida melhor por detrás daquela névoa cinza azulada.

(Eu só precisei de um cigarro para escrever esse textinho)


Medo da morte

12/01/2014

Pensando na minha lista de medos, me dei conta que não coloquei lá o medo da morte.

Eu não tenho medo da morte. Tenho medo de acabar antes de fazer o que eu acho que tenho importante para fazer, como se eu estivesse predestinado a algo. Talvez a arrogância de achar que eu tenho pela frente um grande destino me faça não ter medo da morte.

A morte é o inevitável fim que dá sentido a vida. É por saber que vamos morrer um dia que queremos sempre mais, no máximo e agora. O grande problema é viver num mundo onde ou você é contaminado com a ideia de predestinação, ou uma necessidade de realização que nem sempre condiz com que a pessoa deseja.

Eu até tenho uma lista de coisas que eu gostaria de fazer antes de morrer, mas seria irrelevante me preocupar com ela. Não vou me frustar depois de morto afinal, eu vou estar morto.


Lista do medos

06/01/2014

Eu tenho um monte de medos. Muitos mesmos. Algum são facilmente compreensíveis, outros eu não sei como explicar. Vou listar os principais aqui, e deixo a caixa de comentários para quem quiser mais detalhes.

  • Altura
  • Andar de avião
  • Ratos de qualquer tipo
  • Sentir qualquer tipo de dor
  • Ficar muito tempo sozinho em mar calmo (começa a tocar o tema de Tubarão na minha cabeça)
  • Ficar sem cigarros, especialmente quando estou bebendo
  • Ir trabalhar com a roupa inadequada (eu tenho pesadelos recorrentes com isso)
  • Correria em volta de piscina
  • Praticar qualquer esporte radical
  • Medo de ser atropelado

Acho que esses são os principais.


Conto bobo [II]

05/01/2014

O Pupilo respirou fundo, abaixou a cabeça e fitou seus joelhos dobrados e pernas cruzadas. Voltou a olhar na direção do Mestre e só conseguiu dizer “Mas como?”.

O Mestre também respirou fundo, mas sua respiração não poderia ser mais diferente que a do rapaz. O Pupilo bufou e respirou pesadamente, como se dentro de si houvesse um mar em pavorosa ressaca, arrebentando ondas furiosamente na praia. A respiração do Mestre era suave como um pequeno córrego. O modo como um homem respira diz muito sobre como ele se sente.

“Entenda que a vida é um grande acordo. Estamos diante de um universo de convenções. Escolhemos acreditar que as coisas são como elas são, mas esquecemos que na verdade o que vemos está filtrado por aquilo que chamamos de percepção.”

“Mestre, então podemos perfeitamente dizer que o universo existe, porque todos podemos percebê-lo. Mesmo um homem privado de um ou outro sentido é capaz de sentir o que está ao seu redor.”

“Mas jovem, você fala de um universo percebido por uma pessoa, porque cada indivíduo, cada consciência, vai ter a sua própria interpretação para o que está vendo. Por isso digo que o universo percebido é uma convenção.”

“Mestre”, e a essa altura o pupilo começava a se exaltar, “eu afirmo que há ao meu redor um universo. Posso ver o verde das folhas naquela árvore, posso sentir a textura da grama que toca meus pés, posso sentir o vento quente e úmido em meu rosto. O senhor pode não estar sentindo, mas eu estou, e afirmo que tudo isso existe realmente”.

O Mestre se permitiu rir de maneira afável para o Pupilo. Amava-o como um pai ao seu filho. Encontrava grande prazer em poder ensinar ao menino o que sabia.

“Ora”, disse o ancião ainda sorrindo, “você não se acha presunçoso demais ao afirmar que uma verdade que apenas você vê é a única verdade possível?”.

“Mas não foi isso que eu disse.”

“Mas é assim que me parece. Você adotou a sua opinião como a verdade do mundo.”

“Mas se estamos falando de um universo particular, por que ele não pode ser sustentado sobre as minhas verdades?”

“Ele pode, não posso negar. Mas num universo em que todas as verdades foram estabelecidas por um único indivíduo, que espaço há para a troca, para o aprendizado?”

O Pupilo apenas olhou para baixo, acenando levemente, concordando com o Mestre. Àquela altura, começou a chorar baixinho.

“Quando vim para cá escolhi deixar amigos, posses materiais e o convívio com minha família. Abandonei tudo o que eu tinha, e escolhi buscar o conhecimento que me proporcionaria a felicidade. Agora tenho ainda menos do que tinha quando cheguei aqui.”

“Sim, Pupilo. Eu entendo a sua dor.”

“Como ser feliz sem nada, Mestre? Que caminho trilhar se não tenho mais nada em que acreditar?”

O Mestre sorriu gentilmente, sabia que ele aquele seria o ensinamento mais importante, mas também o mais doloroso que ele teria de passar ao seu discípulo.

“É apenas depois de perder tudo que estamos livres para entender que mais importante que os destinos, são os caminhos.”

Inspirado pela vida, pelas leituras que andei fazendo e pelas conversas que andei tendo. E por Tyler Durden.


SWU é para jacu – parte 4

02/01/2014

Eu sou um sujeito cético. Desconfio de fenômenos misteriosos que as pessoas dizem testemunhar, e até desconfio de certas ciências. Mas jamais esquecerei o que meus olhos viram naquela noite. Quando o Rage Against the Machine subiu ao palco, eu vi um homem ficar invisível.

Recapitulando: litros de chimarrão, café, energético e comprimidos de guaraná proporcionaram ao Bill a maior ingestão de cafeína que alguém pode tomar de uma vez. A energia era tanta, que ele começou a vibrar muito rápido, tão rápido que ele simplesmente desapareceu. Eu poderia dar a explicação física sobre como ele passou a vibrar numa frequência que o olho humano não captava, mas a verdade é que naquele momento Bill estava transitando entre diferentes planos da existência.

O grande problema é que quando ele reaparecia no nosso plano, ele acabava esbarrando nas pessoas que tentavam assistir o show. Então passei boa parte do show me desculpando com quem estava em volta. E sem necessidade, porque quase todos estavam tomados pela comoção de presenciar um fenômeno único e fantástico.

Quando o show acabou, Bill parecia menos energizado, e demos uma volta pelas belíssimas instalações do evento. 5 minutos depois desistimos e resolvemos ir embora. Assim que sentou no carro, Bill desmaiou de sono. Eu me ocupei de ligar para hotéis e pousadas da região. Para tentar conseguir onde dormir.

Sim, foi exatamente isso que você entendeu. Era madrugada, estávamos a quinhentos quilômetros de casa, e não tínhamos a menor ideia de onde iríamos dormir.

Liguei para os hotéis, pousadas, motéis, pensionatos e puteiros da região, mas nenhum deles tinha vaga. Ora, longe de nós desprezar a portentosa Itu, mas não dava pra achar que a rede hoteleira da cidade desse conta de um evento daquele porte, mesmo que o evento tivesse um camping sustentável onde você podia pagar R$ 6,00 por uma garrafinha (de plástico) de água mineral.

Com a sua calma característica, Tiozão proferiu pela primeira vez aquela frase que seria ouvida novamente naquela noite: “agora fodeu a porra toda”. Mas Bill subitamente acordou e disse com um tom que nos encheu de coragem: “te acalmem, pombas! Vamos para São Paulo, acharemos um hotel lá”.

Ele só não contava que talvez fosse tão difícil achar São Paulo.


Resolução de ano novo

01/01/2014

Eu vou voltar a escrever. Sério. Pára de rir, eu não estou brincando. Tá duvidando, né?

 

Então tá.