Oscar 2012

Apesar da escassez de posts, graças a insistência do Leitor Oculto teremos novamente um post sobre o Oscar, como nos moldes do ano passado.

Este ano decidimos ampliar um pouco a lista dos filmes a serem assistidos. Como não dá para assistir a todos os filmes indicados, optamos pelos filmes que contemplavam as seguintes categorias: melhor filme, melhor diretor, melhor ator / atriz, melhor atriz / ator coadjuvante, melhores roteiros (original e adaptado), melhor montagem e melhor fotografia.

Vale o que rolou no post do ano passado. Uma resenha rápida dos filmes, depois meu palpite e meu preferido em cada categoria. Decidi também fazer a minha queixa e dizer quem eu acho que faltou na lista de indicados daquela categoria. Desculpem desde já o jeito corrido do post, mas em em cinco dias eu assisti dezessete filmes, varei uma noite vendo filmes e agora o post estou atrasado.

Os Filmes

A sensação que tive depois que vi O Artista foi de que vivemos num mundo de hipsters. Só isso explica o frisson em volta do filme. A fita é bonita, os atores são um barato e a ousadia de fazer um filme mudo e em preto branco tem que ser reconhecida, mas e daí? Então só posso concluir que nos tornamos fãs do alternativo e do vintage, mesmo que isso ás vezes pareça um tanto exagerado.

A Árvore da Vida é um filme escrito e dirigido pelo Terrence Malick, que pra mim é um tremendo diretor, que usa umas alegorias do cacete, e ás vezes escreve uns poemas visuais, tipo Além da Linha Vermelha. Mas desta vez ele exagerou na dose, e entregou um filme pretensioso e arrogante. Claro que esta é a minha opinião, mas o filme é inacessível e hermético.

O Spielberg fez Cavalo de Guerra para concorrer ao Oscar. Sim, concorrer, porque ele sabia que não ganharia om aquele filme. Eu fui ver porque adoro filmes de cavalo e porque eu esperava que houvesse uma cena como a do desembarque na Normandia, de O Resgate do Soldado Ryan, mas numa trincheira da Primeira Guerra. E Spielberg atendeu ao meu desejo.

Há algum tempo eu não via um filme sobre o homem comum tão bacana quanto Os Descendentes. A direção é excelente, e o Clooney, quem diria, dá o tom exato ao filme. Não se enganem com o trailer te faz acreditar que o filme é um dramalhão, quando na verdade ele está longe disso. Um filme bonito, afinal.

Histórias Cruzadas foi uma grata surpresa. Um filme muito simpático, que consegue mexer com um tema espinhoso e ao mesmo tempo fazer um filme leve, sem diminuir a importância da discussão. Além disso, o filme é sensível, mas sem ser piegas. Merece uma menção honrosa o elenco, que está todo de regular (Emma Stone) a ótimo (Bryce Dallas Howard, Viola Davis, Octavia Spencer).

Só a paixão dos americanos por beisebol explica a presença de O Homem que Mudou o Jogo na lista. Filme de sessão da tarde, com todos aquela parada de superação e de beisebol e Brad Pitt fazendo as mesmas caras e bocas que fez em Bastardos Inglórios. Não que o filme não seja divertido, mas o problema é que ele é apenas  um pouquinho divertido.

A Invenção de Hugo Cabret é um dos filmes mais bonitos que eu vi nos últimos anos. Eu fiquei chorando por mais de meia hora depois que o filme acabou, porque aquela história me tocou de verdade. Só Martin Scorsese poderia dirigir este filme. A maneira como ele traz elementos clássicos do cinema, enquanto ao mesmo tempo usa o 3D como recurso narrativo é impressionante. Meu preferido, não escondo.

Woody Allen tem uma extensa filmografia e na maior parte dela os protagonistas são homens inseguros, cheios de complexos e com dificuldades para se socializar. Em Meia-Noite em Paris não é diferente. Só que dessa vez ele decidiu fazer um filme com verniz intelectual, mesmo que isso pareça esnobe, e é esnobe para cacete. Não bastasse isso, a caricatura que ele faz dos artistas do começo do século XX é irritante.

Tão Forte e Tão Perto são os EUA no divã, tentando entender o 11 de Setembro, mas tudo visto através de um garoto peculiar, cujo pai morreu no atentado. A facilidade com que a história, por mais inverossímil que ela pareça ás vezes, te envolve é incrível.

Palpites e preferências

Melhor Montagem

Quem deve levar: O Artista

Quem eu prefiro: Os Homens que Não Amavam as Mulheres

Quem faltou: Contra o Tempo

O Artista tem 1:40h de duração, mas você pode jurar que é um curta, tamanha a sua agilidade. Por outro lado, A montagem de Millennium resolve um problema do roteiro e ainda melhora o filme. Eu colocaria Contra o Tempo na lista, porque é um filme em que o tempo é importante e o montador teve um cuidado absurdo.

Melhor Fotografia

Quem deve levar: A Árvore da Vida

Quem eu prefiro: A Invenção de Hugo Cabret

Quem faltou: Os Descendentes

Os ângulos esquisitos da câmera de Árvora da Vida devem convencer a academia e levar o prêmio, embora eu prefira a câmera que segue Hugo pelos túneis da estação de trens e dá a cada cantinho de Paris uma cor pertinente. A câmera em Os Descendentes nos aproxima da história, dando a exata dimensão de drama do homem comum que precisamos ter.

Melhor Roteiro Original

Quem deve levar: O Artista

Quem eu prefiro: A Separação

Quem faltou: Toda Forma de Amor

O Artista deve levar essa, e é até razoável que se premie o filme, mas eu prefiro o drama iraniano, que é uma tremenda história, cheia de reviravoltas interessantes. Mas não dá pra esquecer de Toda Forma de Amor, filme que roubou meu coração.

Melhor Roteiro Adaptado

Quem deve levar: Os Descendentes

Quem eu prefiro: Os Descendentes

Quem faltou: Histórias Cruzadas

O Roteiro de Os Descendentes é a base que permite que Clooney e Payne façam o excelente trabalho que fizeram. Mas cadê a adorável  história de Histórias Cruzadas e seus personagens tão vivos?

Melhor Ator Coadjuvante

Quem deve levar: Max Von Sydow de Tão Forte e Tão Perto

Quem eu prefiro: Kenneth Branagh de Sete dias com Marilyn

Quem faltou: Philip Seymour Hoffman, de Tudo pelo Poder

Max Von Sydow tem mais chances, mas no calcanhar dele vem Christopher Plummer. Ambos são excelentes, mas tenho mais simpatia pelo trabalho de Plummer. Melhor que os dois só Branagh, no papel de um irritadiço Laurence Olivier. Mas faltou Seymour Hoffman, que é a melhor coisa no filme do George Clooney, fazendo o papel do chefe da campanha a presidência, e mentor do protagonista.

Melhor Atriz Coadjuvante

Quem deve levar: Octavia Spencer, de Histórias Cruzadas

Quem eu prefiro: Octavia Spencer, de Histórias Cruzadas

Quem faltou: Bryce Dallas Howard, de Histórias Cruzadas

Aqui que vença a melhor. No papel de empregada desaforada, Octavia afeta a gente, para bem ou para mal. Curiosamente ela é a segunda melhor coadjuvante do filme, cargo que cabe a Bryce Dallas Howard, que rouba a cena e acaba assumindo um natural papel de vilã no filme. Uma atuação tão bacana que você mal lembra que ela era aquela Gwen Stacy lesada em Homem Aranha 3.

Melhor Atriz

Quem deve levar: Viola Davis, por Histórias Cruzadas

Quem eu prefiro: Michelle Williams, por Sete dias com Marilyn

Quem faltou: Shailene Woodley, de Os Descendentes

Como não se apaixonar pela atuação de Michelle Williams, que consegue encarnar a ingenuidade e sensualidade de Marilyn Monroe e tornar tudo tão crível, que você passa a imaginar Marilyn com as feições de Michelle. Seria justo também premiar Viola Davis e sua excelente atuação, porque não é tão fácil interpretar uma mulher que carrega dentro de si tanta mágoa, mas mesmo assim não é amarga, e quando desabafa, o faz com serenidade. E se no ano passado indicaram a novata Jeniffer Laerence por uma atuação apenas correta, não vejo motivos para não indicar a novata de Os Descendentes, que dá um tom certo para a adolescente que oscila entre a revolta e a compaixão pelo pai. Ah, e não venham me falar daquela caricatura que Meryl Streep fez.

Melhor Ator

Quem deve levar: Jean Dujardin, de O Artista

Quem eu prefiro: George Clooney, de Os Descendentes

Quem faltou: Leonardo Dicaprio, por J. Edgar

Dujardin está ótimo, mas não faz a minha cabeça a sua atuação. Eu fiquei admirado com a sutileza da atuação do Gary Oldman, mas ele eu sabia que era bom ator, bastava achar um bom filme, diferente de Clooney que sempre foi um canastrão. Mas os Descendentes é um filme sobre o homem comum (já falei isso umas 4 vezes, né?) e Clooney é o homem comum, deslocado de sua rotina, cansado e desorientado. Você vê nos olhos dele a confusão que está na sua cabeça.   Estranho a ausência do Leonardo Dicaprio, que com uma excelente atuação evita que J. Edgar caia no exagero.

Melhor Diretor

Quem deve levar: Michel Hazanivicus, por O Artista

Quem eu prefiro: Martins Scorsese, por A Invenção de Hugo Cabret

Quem faltou: Stephen Daldry, por Tão Forte e Tão Perto

Hazanivicus não é o melhor entre os indicados, mas é o homem da vez. Payne nos brindou com um filme ótimo, que é ótimo essencialmente graças a uma boa direção. Mas só Martin Scorsese poderia dirigir Hugo Cabret, porque você precisaria ser Marty para ter a sensibilidade necessária para fazer do filme a homenagem emocionante que ele acaba sendo. Scorsese dedicou sua carreira principalmente a filmes violentos, cheios de mafiosos, gângsters e outros tipos de bandidos para surpreender a todos com um filme tão  afetivo, quase lúdico e esse ser o seu filme mais autoral. Podiam ter feito a decência de indicar Daldry, que nos faz mergulhar na melancolia do pós 11/9 com maestria.

Melhor Filme

Quem deve levar: O Artista

Quem eu prefiro: A Invenção de Hugo Cabret

Quem faltou: Toda Forma de Amor

Infelizmente vai levar O Artista, que é um filme simpático, mas está longe de ser o meu favorito. Na verdade, essas listas com dez filmes acabam tendo uns filmes bem fracos. Este ano por exemplo, dava para fazer uma lista com Hugo Cabret, Os Descendentes, Histórias Cruzadas, Tão Forte e Tão Perto e O Artista. Mas se forem incluir dez filmes, poderiam ter feito uma lista com dez (e não nove) e terem incluído o belíssimo Toda Forma de Amor, filme tão bonito quanto importante nestes tempos.

7 Responses to Oscar 2012

  1. Roberto Moura disse:

    Luquetucho mein camarada, apesar de infinitamente menos abalizado para dar o meu pitaco, ja que, alem de voce ter esse costume de acompanhar o Oscar e ver bastante filme ha muito mais tempo que eu, eu vi pouquissimos filmes dos que estao concorrendo nesse ano, sinto-me impelido a discordar de vsa sra. Vi O Artista e foi um filme que me tocou mesmo, apesar de ambientado em uma outra epoca, acho que fala muito da condicao atual do… er, bem… artista.

    Outro filme que eu gostei muito foi o Meia-noite em Paris. Fui no cinema sem fazer a minima ideia do que era o filme, e acho que o ideal pra assistir e isso mesmo. Os seu pontos de questionamento em relacao a ele… queria o que? E o Woody Allen mesmo. Mas mesmo assim, achei um filme diferente, dentro da medida do possivel, do cliche do cara.

    Meus cinco centavos ai. Gostei do texto, vou dar uma olhada nos filmes que voce recomendou.

    • oluquetucho disse:

      O Artista causou essa comoção nas pessoas, e eu entendo você. Ele não bateu aqui, mas eu consigo entender quando ele bate assim em alguém.

      Agora, o Meia-Noite em Paris é mais complicado de entender.

      Mas pode deixar quantos centavos você quiser. E não precisa pedir licença pra discordar.

      Um abraço, Roberto.

  2. Daniel Lima disse:

    Cara, um pequeno comentário sobre O Artista…

    Infelizmente, uma bela produçãol cheia de insights interessantes e despretensiosos teve a discussão merecida abafada devido a críticos e espectadores terem se perdido temática menos importante do “filme mudo”.

    Particularmente entendi que o elemento “mudo” compõe muito bem a história que a obra quer contar, está muito bem acordado com a proposta do filme. Assim como está a trilha sonora, o figurino, o cachorrinho. Mas acabou q o q deveria ser apenas mais um elemento de composição ser tornou O foco de discussão exclusivo, esvaziando as abordagens.

    E só nesse ponto eu concordo q isso seja em boa parte culpa da cultura “hipster”, e a grande legião de saudosistas de algo que sequer viveram de verdade.
    Mas o interessante tb é a o filme dialoga inclusive com essa temática: a ditadura do excessivamente atual criando a antítese do nostalgismo hipster – e justamente o protagonista do filme encarna, de certa forma, uma espécie de proto-hipster, refém de um tempo que lhe dá cada vez menos voz.

  3. Rafael disse:

    Sem ter visto ainda “O Artista”, concordo com “Hugo”: é o melhor filme de Scorsese desde Goodfellas.

    • oluquetucho disse:

      Partindo deste princípio, fica ainda mais complicado achar “O Artista” melhor que “Hugo”.

  4. Leitor Oculto disse:

    Gostei. Só senti falta de vc falar um pouco sobre Beginners, já que vc gostou tanto.

    • oluquetucho disse:

      Beginners vai ser o mote para um post que eu estou me devendo há muito tempo. Basta agora abandonar a cara-de-pau e voltar a escrever.

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